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17/12/2018 às 07h02

Geral

Atendimento de médicas cubanas marca moradores da Barra de Santo Antônio 

A médica cubana Dayami Ventura Infante era muito amada por seus pacientes na Barra de Santo Antônio - Reprodução/Redes sociais

Por Carlos Amaral e Eliane Aquino

Todos os relatos de pessoas que foram atendidas por médicos cubanos são repletos de elogios. A forma mais humanizada com que os profissionais da ilha caribenha tratam os pacientes chama a atenção de Norte a Sul do país e em Alagoas isso não poderia ser diferente. 

A reportagem da Painel Alagoas conversou com três pessoas de Barra de Santo Antônio, distante pouco mais de 40km da capital, Maceió. A atenção dispensada a elas é destaque em todos os depoimentos. Na cidade, duas médicas cubanas atendiam à população: Dayami Ventura Infante e Marilin Gonzalez Cabrera. 

Dona Catarina Lopes tem 68 anos de idade e é marisqueira. Diabética, ela tem problema renal, descoberto depois de se consultar com a médica cubana Dayami Ventura Infante. A senhora também se consultava com Marilin Gonzalez Cabrera. 

“Era uma ou outra, estavam sem­pre presentes, nos atendiam no posto e até em nossa casa”, contou Catarina, triste com a partida das duas médicas. “Agora, a gente nem sabe quando o médico vem, se vai vir, ou se vai tratar a gente como elas tratavam”, acrescentou, rindo ao lembrar que o sotaque das duas era “estranho” no início. 

Segundo Catarina, as médicas cubanas eram simpáticas e “prestativas”. A marisqueira também ressalta a falta de profissionais antes do Mais Médicos.

“Antes delas, quase não tinha médico por aqui e quando tinha, atendia rápido, sempre com pressa. Com as doutoras cubanas não, a gente conversava sobre o que sentia nos mínimos detalhes. Elas tinham paciência, nos orientavam e ainda iam à nossa casa ver se estava tudo bem”, destaca. 

Carlos Moisés dos Anjos é aposentado e tem 72 anos de idade. Ele era paciente de Dayami Ventura Infante.

“Ave Maria, era boa demais a doutora!”, enfatiza, preocupado com o futuro. “Além de nos consultar direito, ela se preocupava, queria notícias, nos acompanhava no dia a dia”, salientou. “Estavam sempre ali, prontas para atender, nunca nos faltou”, testemunha.

Já Maria das Dores da Conceição, empregada doméstica de 45 anos de idade, lembra quando elas chegaram à cidade.

“Num instante virou gente igual a gente, simples. Tomavam café em nossas casas e contavam histórias sobre o país delas. É uma pena que tenham ido embora. Eram ótimas médicas”, reforça, temendo o futuro. “Sei que vai vir médicos para cá, mas estão dizendo que vai ser como antes, uma ou duas vezes na semana”, se preocupa Maria das Dores. 

A prefeita da Barra de Santo Antônio, Emanuella Moura (PSDB), e a equipe da Secretaria Municipal de Saúde fizeram uma homenagem às duas médicas cubanas. A atual gestão reconheceu o trabalho de ambas e ainda aguardava uma posição sobre o edital de convocação de médicos para a cidade. 

Porque Cuba deixou o Mais Médicos

A participação de Cuba no programa Mais Médicos sempre foi alvo de polêmicas. Em parte devido ao fato de que os profissionais da ilha caribenha não ficavam com a totalidade do pagamento do programa: R$ 11,8 mil, seja pela paranoia de Guerra Fria que assola o Brasil atualmente. 

A remuneração paga pelo governo brasileiro é feita à Opas, que repassa ao governo cubano para daí pagar os médicos daquele país que estavam no Brasil. Do total, Cuba ficava com 60% dos pagamentos. O mesmo sistema é feito em relação a todos os países que contam com cubanos em programa semelhantes ao Mais Médicos.

Entretanto, isso serviu como base de ataques a Cuba, inclusive nas últimas eleições. Além disso, correntes nas redes sociais passaram a afirmar que os médicos cubanos eram espiões no Brasil. Isso chegou a ser repetido por Jair Bolsonaro, mesmo após eleito presidente da República.

Fora as afirmações de que os cubanos eram escravos de seu governo, o que sempre foi negado pelos médicos que vieram ao Brasil. A negativa foi reafirmada, inclusive, em entrevistas que fizeram após Cuba anunciar que deixaria o programa brasileiro.

Em nota, divulgada no dia 14 de novembro, o Ministério da Saúde Pública da República de Cuba, ressalta a importância do Mais Médicos e o compromisso de Cuba com a promoção da saúde. Na ilha do Cariba, o atendimento à saúde é 100% gratuito e universal.

“O Ministério da Saúde Pública da República de Cuba, comprometido com os princípios solidários e humanistas que durante 55 anos têm guiado a cooperação médica cubana, participa desde seus começos, em agosto de 2013, no Programa Mais Médicos para o Brasil. A iniciativa de Dilma Rousseff, nessa altura presidenta da República Federativa do Brasil, tinha o nobre propósito de garantir a atenção médica à maior quantidade da população brasileira, em correspondência com o princípio de cobertura sanitária universal promovido pela Organização Mundial da Saúde”, diz a nota de Cuba.

O Ministério cubano ressalta a participação de médicos de outras nacionalidades no programa brasileiro e o trabalho desenvolvido pelos profissionais oriundos da ilha caribenha.

“Nestes cinco anos de trabalho, perto de 20 mil colaboradores cubanos ofereceram atenção médica a 113 milhões 359 mil pacientes, em mais de 3 mil 600 municípios, conseguindo atender eles um universo de até 60 milhões de brasileiros na altura em que constituíam 88 % de todos os médicos participantes no programa. Mais de 700 municípios tiveram um médico pela primeira vez na história”, relata. “O trabalho dos médicos cubanos em lugares de pobreza extrema, em favelas do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, nos 34 Distritos Especiais Indígenas, sobretudo na Amazônia, foi amplamente reconhecida pelos gover­nos federal, estaduais e municipais desse país e por sua população, que lhe outorgou 95% de aceitação, segundo o estudo encarregado pelo Ministério da Saúde do Brasil à Universidade Federal de Minas Gerais”, completa a nota.

Para o governo cubano, as decla­rações de Jair Bolsonaro foram ameaçadoras e rompe o acordo do Brasil com a Opas.

“O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, fazendo referências diretas, depreciativas e ameaçadoras à presença de nossos médicos, declarou e reiterou que modificará termos e condições do Programa Mais Médicos, com desrespeito à Organização Pan-americana da Saúde e ao conveniado por ela com Cuba, ao pôr em dúvida a preparação de nossos médicos e condicionar sua permanência no programa a revalidação do título e como única via a contratação individual”, aponta. “As mudanças anunciadas impõem condições inaceitáveis que não cumprem com as garantias acordadas desde o início do Programa, as quais foram ratificadas no ano 2016 com a renegociação do Termo de Cooperação entre a Organização Pan-americana da Saúde e o Ministério da Saúde da República de Cuba. Estas condições inadmissíveis fazem com que seja impossível manter a presença de profissionais cubanos no Programa”, completa.

O Ministério da Saúde de Cuba também destaca o histórico do país em ajudas humanitárias.

“Não aceitamos que se ponham em dúvida a dignidade, o profissionalismo, e o altruísmo dos colaboradores cubanos que, com o apoio de seus familiares, prestam serviço atualmente em 67 países. Em 55 anos já foram cumpridas 600 mil missões internacionalistas em 164 nações, nas quais participaram mais de 400 mil trabalhadores da saúde, que em não poucos casos cumpriram esta honrosa missão mais de uma vez. Destacam as façanhas de luta contra o ebola na África, a cegueira na América Latina e o Caribe, a cólera no Haiti e a participação de 26 brigadas do Contingente Internacional de Médicos Especializados em Desastres e Grandes Epidemias ‘Henry Reeve’ no Paquistão, Indonésia, México, Equador, Peru, Chile e Venezuela, entre outros países”, diz. “Na grande maioria das missões cumpridas, as despesas foram assumidas pelo governo cubano. Igualmente, em Cuba formaram-se de maneira gratuita 35 mil 613 profissionais da saúde de 138 países, como expressão de nossa vocação solidária e internacionalista”, completa.

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Fonte: Painel Alagoas

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