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20/01/2020 às 08h16

Cultura

Persivaldo Figueirôa: Avant-garde da arte de retratar as coisas do Nordeste

Trabalho do artista transita entre muros, esculturas, ob­jetos, telas, cenários, vestuários

Felipe Camelo

Por Iranei Barreto e Nicollas Serafim/Blog Aqui Acolá 

Inconfundível no traço e na paleta de cores, a arte de Persivaldo Figueirôa transita entre muros, esculturas, ob­jetos, telas, cenários, vestuários, nas diversas exposições coletivas e individuais, em ambientes e mostras de ar­quitetura. Mais recentemente na Ave­nida da Paz, dentro do projeto Natal na Avenida da Paz, o público alagoano pode apreciar mais uma de suas intervenções urbanas. 

Ousado e subversivo, Figuerôa personifica a vanguarda na arte de re­tratar as coisas do Nordeste com leveza, elegância e sofisticação. “As figuras que eu crio têm essa identidade com o nordeste, essa coisa de ser nordestino. A minha pintura transmite isso nas figuras, nas cores quentes, terrosas. Tem ainda minha paixão por lagartixa não sei por quê; tem umas figuras que eu saio criando, tem uns bichos, o universo das sereias que eu gosto muito. Ao mesmo tempo em que isso vai criando um vínculo com meu trabalho, imprimo minha identidade. Mas, nada é pensado com esse propósito, surge naturalmente. Eu não me prendo muito a tema,” explica.   

O artista naturalizado alagoano é de vertentes, região do Alto Capibaribe Pernambucano.  Em 1984, desembarcou em Maceió para ser bancário, atividade que exerceu durante 13 anos. Porém, a pintura não saía de sua cabeça nem de suas mãos. Ele diz que desde criança se ver como artista. “Como todo mundo que tem essa vocação para a arte aconteceu desde criança. Tenho essa memória desde os oito, nove anos me vejo pintando lá em vertentes. E na escola é que você realmente percebe essa vocação quando faz os trabalhos de Educação Artística”, comenta. 

Persivaldo contou com uma grande aliada e incentivadora para entrar de corpo e alma na arte, Cleonice Florêncio, sua mãe, que inclusive pagava por seus trabalhos. Incen­ti­vado por Dona Cleonice desde a infância, a arte foi crescendo dentro de si enquanto ele mesmo crescia. “Sempre gostei de desenhar e minha mãe usava minhas pinturas nas costuras que ela fazia. Então sempre estava produzindo e essa coisa de ser artista veio naturalmente, sem nenhuma pretensão, era algo do dia a dia”. Na adolescência chegou a trabalhar com pintura de roupa, com um tipo de desenho que se aproximava da xilogravura. Ele lembra com satisfação que algumas de suas clientes ainda têm trabalhos desta fase. 

Já em Maceió, realizou alguns cursos para aprimorar sua técnica. “Passei a frequentar o Ateliê de Salles e me soltei cada vez mais”, diz ele. “Já tinha séries de desenhos e fui lá em busca da orientação do pintar.” Também fez algumas oficinas com o artista Achiles Escobar, que foi quando deu inicio ao processo de papietagem, seus desenhos ganharam tridimensionalidade por meio das esculturas de diferentes dimensões. 

Toda a sua bagagem de anos de autodidata, aliada às técnicas aprendidas na escola de arte deram a Persivaldo novo fôlego de inspiração e produção. Ficou amigo do também pintor Edgar Bastos, que o levou para dentro do mundo das artes alagoanas, e o incentivou ainda a mais a produzir.

Com o término de seu trabalho no banco, só havia um caminho para seguir, aquele que havia lhe acompanhado a vida inteira. “Não queria mais ser empregado de ninguém e entrei de cabeça na arte. Já tinha conhecimento com arquitetos e pessoas ligadas a esse meio e passei a pintar profissionalmente. A partir daí, meu trabalho só cresceu”.

A pintura de Persivaldo Figueirôa se destaca, fundamentalmente, pelo figurativo. Seja humana, animais ou criaturas (inventadas ou não), a figura sempre se destaca em seus trabalhos. Cenas e situações do cotidiano também têm presença garantida em suas obras, assim como os elementos da religiosidade e folclore nordestino.

Além disso, ele também começou a desenvolver um trabalho com esculturas de papel, papel machê e papietagem. Contudo, desta vez, é o abstrato que toma conta de suas inspirações. Curioso, ele também já se aventurou por outros caminhos da arte, como o ferro, a argila e a confecção e decoração de máscaras de carnaval. Outra característica marcante de seu trabalho são as pinturas de grandes dimensões. Ele tem obras gigantes espalhadas pelo estado como o viaduto de Rio Largo, da Praia do Francês e o painel em Jaraguá.

“Hoje tento aplicar o meu trabalho artístico em todas as vertentes. Todas as possibilidades que eu tenho de me expressar, eu aproveito. De um cenário para show, cenário para ballet, da tela, da escultura, nas roupas que pinto. Tudo serve de suporte para eu mostrar minha arte. Não me nego a fazer nada. tudo isso é possibilidade de criar,” explica. A diversidade de suportes também incide na variedade de materiais. De acordo com o artista, a necessidade de produzir algo gera uma demanda por um tipo específico de material. Há algum tempo Persivaldo vem trabalhando também com recicláveis. 

Sua primeira individual “Persivaldo Figueirôa: Arte, Ofício e Paixão”, ocorreu em 1995, nas dependências do BIC Banco Agência Maceió.  E a primeira coletiva, cinco anos antes, em 1990, na Estação Ferroviária de Maceió, intitulada “CECI N’EST PAS UNE PIPE”. Na Galeria do Sesc Maceió expôs em duas oportunidades -“Casa de Oração” ( 2003) e “Na parede” (2007).  “Olhar Feminino”, no Espaço Cultural dos Correios de Maceió, em 2004. Em 2010 aconteceu “De quase tudo um pouco” no Cine Sesi Maceió. A última individual “Quebra 2012” foi montada no Museu da Imagem do Som (Misa), em 2017, sob curadoria de José Acioli Filho. 

Além das coletivas, Persivaldo tem participação em diversas exposições coletivas, salões de artes, mostras de arquitetura e também já atuou em curadorias. Além disso, tem participado de oficinas com crianças, adultos e adolescentes; projetos culturais, a exemplo de “Arte no Prato”, da Algaz; Museu Itinerante Ultragaz – A arte perto de você - ; Salão de Pintores Alagoanos –TRT 19; “Alagoas em Cena”;  das publicações “ Canteiros de obras” e “Maceió Duzentos Anos – Instituto Arnon de Melo”.   Inquieto e inventivo, mesmo envolvido com o projeto mais recente - “Natal na Avenida da Paz”, comandado pela arquiteta Mirna Porto, e em meio ao tumulto de final, Figueirôa já amadurece a possibilidade de uma próxima exposição individual para 2020, além de avaliar convites para expor coletivamente e propostas para novos projetos. 


Fonte: Painel Alagoas

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