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17/12/2018 às 07h08

Cultura

Em Maceió, alfarrábios seguem firmes em direção contrária à crise que atinge as grandes livrarias

Bancas e lojas de livros usados resistem ao tempo e se aliam às novas tecnologias para aumentar suas vendas

Afranio Aquino

Por Afranio Aquino

Vender livros não é uma tarefa das mais fáceis. A decretação de falência de grandes livrarias como a Cultura e a Saraiva, mostra o quão complicado é um mercado em que o brasileiro médio consome menos de três obras ao ano. Em meio à crise, um setor se destaca: o dos alfarrábios, ou sebos, locais onde se pode encontrar desde grandes obras da literatura a um simples romance impresso em papel-jornal.

Em Maceió, a Rua Pontes de Miranda, mais conhecida como “Paredão da Assembleia”, é famosa por abrigar grande parte dos sebos de Maceió há mais de 40 anos. O perfil dos clientes de alfarrábios não mudou muito durante todo este tempo. Ao contrário do que hoje acontece nas grandes livrarias, a clientela só aumenta, seja pela procura de raridades ou pelos baixos preços de livros e revistas usadas.

Ronaldo Tenório trabalha com a venda de livros usados há 39 anos. Ele é proprietário do Alfarrábio Cultural, um sebo com grande variedade de livros. Ele conta que começou ajudando o irmão no Paredão da Assembleia.  “Pegávamos um caixote, espalhávamos os livros e revistas em cima e, por conta da prefeitura que na época criou um projeto para tirar os ambulantes, alugamos um lugar específico. Depois disso, crescemos e estamos aqui até hoje”, enfatiza.

Sua loja foi crescendo com o tempo e hoje ela possui um dos maiores acervos da cidade. “Aqui, o fornecedor vem até a mim. E o segredo é conseguir um bom acervo para oferecer aos clientes”, informa. Percebendo o avanço da tecnologia e das mídias sociais, ele soube aproveitar o momento e hoje parte de suas vendas é feita online, por sites como Mercado Livre e Estante Virtual. No entanto, o público segue comprando em sua loja física. 

“A internet não é uma concorrente. Ela ajuda. Vendemos muito pela internet, entregamos em todo o Brasil. O faturamento pela internet é maior, livros raros quase não vendemos aqui (na loja física), vende pela internet porquê o público é maior”. Destaca Ronaldo, dizendo que já conseguiu vender livros por até R$ 1.500. 

Rendrickson Silva concorda com Ronaldo. Ele é proprietário do Alfarrábio Rei dos Livros, bem em frente ao Paradão onde, assim como seu concorrente, começou vendendo livros até conseguir seu espaço. “O movimento físico na loja caiu mais, porém o virtual aumentou”.   Seu público consiste dos que conhecem o Rei dos Livros pelas redes sociais e antigos clientes. Afinal, Rendrickson tem seu espaço há 13 anos e aprendeu tudo o que sabe com seu pai. “Continuam a nos frequentar pessoas que os pais traziam aos sebos e aprenderam a vir, curiosos, estudantes e a internet claro, o marketing digital ajuda muito”, aponta o comerciante.

Diversificação

Nos sebos não se encontra apenas livros e revistas. A necessidade de diversificar produtos levou os proprietários de alfarrábios ao mercado fonográfico e cinematográfico. DVDs, CDs e principalmente LPs (discos de vinil) fazem parte dos acervos atuais. “Até jogos vendemos. Foi uma necessidade e o público pede isso. Dá para conciliar, as grandes livrarias também fazem isso atualmente”, conta Rendrickson.

Um exemplo é um LP dos Beatles, relançado para um mercado cada vez mais vintage, apaixonado pela tecnologia dos anos 1970 e 1980, que hoje custa em uma grande livraria de Maceió cerca de R$ 500,00. Em um sebo, o exemplar antigo, possivelmente com alguns arranhões, foi achado por R$ 38,00.

No entanto, o grande carro-chefe são os livros. Principalmente os de autoajuda e os da área jurídica, entre outros,  porém algumas obras podem valer muito. O Rei dos Livros vendeu um exemplar de Terra das Alagoas, de autoria de Ladislau Neto, por mais de R$ 20 mil. “Valia um pouco mais de R$ 22 mil, mas tinha alguns danos nas páginas e vendi por menos”, conta Rendrickson.

Analógico

Encostados ao Paredão da Assembleia existem ainda os resistentes ao avanço tecnológico, como Suélio de Barros. Há duas décadas ele se encontra lá, vendendo ainda apenas na forma física. “Livros, revista, CDs, DVDs, discos de vinil, aqui tem de tudo”, avisa. 

Suélio diz ter sua clientela física, não vende online. “Estou me aperfeiçoando, futuramente também pretendo vender online”, admite, mas não acredita que um dia sua banquinha possa ser fechada pela concorrência virtual. “Não acredito, tô aqui há 20 anos, ninguém fechou, não acredito que vou fechar”, diz, convencido.

É uma opinião de todos. “Com certeza, vai demorar muito o livro impresso deixar de existir, ainda tem pessoas que não gostam de ler pela internet”, afirma Ronaldo Tenório, do Alfarrábio Cultural. Rendrickson tam­bém acredita nisso. “Existe um público que gosta de tatear o livro, ver, cheirar. Até mesmo antes de adquirir”, explica. 

Os clientes

O jornalista Almerino Titara é um ávido colecionador. Frequenta os sebos desde os 18 anos, quando saiu da cidade de Palmeira dos Índios e veio morar em Maceió. “Moro aqui a 19 anos e toda semana eu dos uma passada nos principais alfarrábios”. 

O preço é um dos atrativos para ele, que não sabe quantos livros, DVDs e revistas em quadrinhos tem em casa. “Nunca parei pra contar, tenho que fazer isso algum dia, mas em números altos digamos que uns 800 filmes em DVD ou Blu-Ray, livros uns 400 exem­plares de qualquer assunto e revistas em quadrinhos umas 500, nesse caso das revistas em quadrinhos eu foco melhor o que compro senão não sobra nem um dinheiro no final do mês.”

Para ele, compras online somente as mais interessantes, com frete grá­tis. O alfarrábio, é como o seu segundo lar. “Já comprei 20 DVDs de uma vez, cinco livros. Nunca visito o sebo pro­curando algo específico. O que for interessante, eu levo”, conta. 

E assim um mercado que poderia sofrer as consequências da crise dos livros impressos, segue forte e se atualizando para continuar relevante no futuro.  Um ponto di­ver­gente no que se vê na área co­mercial da indústria literária em médias e grandes livrarias em Ala­goas e no país.


Fonte: Painel Alagoas

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