Dólar com. 5.173
IBovespa 0.58
25 de abril de 2024
min. 23º máx. 32º Maceió
chuva rápida
Agora no Painel Tribunal de Justiça de Alagoas integra Conselho Estadual do Alagoas Sem Fome
01/09/2018 às 09h06

Cultura

Setembro marca celebração da poesia em língua portuguesa no Rio

Abertura do 5º Encontro de Poetas da Língua Portuguesa, no Palácio do Catete, zona sul da cidade. Na foto a poeta Lindacy Meneses. - Tânia Rêgo/Agência Brasil

Tenho tudo / guardo sempre / vem o tempo / leva tudo / nada fica / mas a vida é ingrata / talvez seja eu a mais ingrata / gosto do meu tudo / me apego com carinho / assim é o tempo que passa / a vida que segue / trazendo na alma / a juventude perdida / que um dia não amei e nem zelei / hoje, gosto do meu tudo / e guardo com carinho.

O poema é de Lindacy Meneses, ex-diarista de 60 anos, moradora da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, que deixou tudo para se dedicar exclusivamente à literatura e à poesia. “Para se aperfeiçoar na literatura é muita caminhada, você tem que se dedicar muito”, afirma.

Ela integra o grupo Sarauzeiras Oníricas e participa do 5º Encontro de Poetas da Língua Portuguesa, que foi aberto nessa sexta-feira (31) no Museu da República, no Catete. A organizadora-geral do encontro, Mariza Sorriso, destaca que o único pré-requisito para participar do evento é ser poeta. “Não precisa nem ter tido publicação. A gente tem pessoas famosas, pós-doutores, PhDs, mestres, e tem também o sapateiro, o pedreiro, a empregada doméstica”.

Tudo começou em 2013, quando Mariza foi a Lisboa fazer o pré-lançamento de um livro e conheceu poetas portugueses. Surgiu a ideia de fazer o encontro e em 2014 ocorreu o primeiro deles, em Lisboa, com poetas do Brasil, de Portugal e Angola. De lá pra cá, o evento cresceu e chegou a Maputo, em Moçambique. Segundo ela, ele ocorre em várias cidades, numa grande celebração da língua portuguesa.

“Este ano começa no Rio, depois vamos para Olinda e Recife, dias 14 e 15, e Lisboa de 20 a 23, onde haverá o lançamento da antologia. Depois vamos para Angola, no dia 29. A intenção é unir mesmo, integrar, trocar cultura. Dentro do português temos muitas variações. Nas antologias, muitas vezes a gente precisa colocar nota de rodapé para entender”.

A cada encontro é publicado um livro com poesias dos participantes. Os poetas fazem passeio por pontos importantes da literatura no centro do Rio, como a Academia Brasileira de Letras, o Real Gabinete Português de Leitura, as confeitarias Colombo e Itajaí e a Biblioteca Nacional.

Neste sábado, a programação no Museu da República terá a palestra "A importância da integração dos poetas de língua portuguesa para a literatura", do professor Luiz Otávio Oliani, além de atividades culturais, apresentação musical de ritmos lusófonos e a leitura de poesias.

“Não sabia que escrever sofria tanto”

Lindacy diz que entrou para o mundo da literatura a fim de contar a sua história. Filha de uma prostituta, ela se viu abandonada aos 7 anos de idade após a morte da mãe, no Recife. Não se adaptou à casa do irmão e veio parar na casa de parentes no Rio de Janeiro, tendo que começar a trabalhar aos 9 anos como empregada doméstica para ajudar no sustento da casa, depois que a mãe adotiva se separou. Foi obrigada a deixar os estudos ainda criança.

Em 2012, ouviu no telejornal um convite da Festa Literária das Periferias (Flup) a poetas e escritores que tivessem contos e poesias para publicar. “Eu não era nada e não tinha nada, mas pedi pra minha filha me inscrever porque eu queria contar a minha história”, lembra. “Mas não era só ir lá e contar e minha história que alguém ia escrever e eu ia sair com o livro pronto, como pensei. Era uma oficina literária e tive que fazer um texto sobre o Rio de Janeiro, eu nem sabia o que era texto, minha filha me explicou. Eu escrevi, minha filha mandou, depois de um tempo me chamaram, eu fui selecionada para participar”.

Lindacy foi acompanhada do marido à Flup, no Morro dos Prazeres, e se apaixonou pelo ambiente literário. “Eu falei que era iletrada, eu sei ler e escrever, mas muito pouco. Eu não entendia o que as pessoas falavam, mas meu marido me apoiou. Fiquei encantada com aquela festa toda. Passaram a tarefa e, em casa, desenvolvi o conto. Depois, na reunião tive que falar sobre como eu escrevia, acharam ótimo, maravilhoso. Me aplaudiram pela minha força de vontade”, lembra emocionada.

Ela não parou mais de escrever e resolveu deixar de trabalhar depois de ter um ataque epilético, que atribui à ansiedade gerada pelo processo de escrita. “Eu comecei a ficar naquela ânsia de querer escrever, voltei a estudar, mas as dificuldades são muitas. Minha mãe adotiva tem problema no pé, então eu tenho que fazer tudo, o marido alcoólatra, uns netos que ainda moram lá em casa, me dando trabalho. Mas aí eu fui, nessa ansiedade de querer aprender, de querer fazer tudo, e tive um ataque epilético. Coisa que nunca aconteceu, sempre fui saudável. Acho que foi a ansiedade, que era demais. Eu comecei a escrever e comecei a sofrer. Não sabia que escrever sofria tanto, dá uma emoção, uma coisa, tem hora que até choro”.

Agora, Lindacy Meneses está escrevendo a sua história, além de contos e poesias, e é uma das integrantes da Antologia Comemorativa do 5º Encontro de Poetas da Língua Portuguesa, livro que reúne trabalhos de 135 poetas de sete países. A publicação será lançada hoje no evento.


Fonte: Agência Brasil

Todos os direitos reservados
- 2009-2024 Press Comunicações S/S
Tel: (82) 3313-7566
[email protected]