Para refletir:
“É bom levar uma vida saudável, mas um porre vez ou outra é ótimo: a alma jornalística carece de purificação. Mas se beber não dirija, nem agende uma entrevista importante”.
Ainda muito jovem fui diagnosticado como jornalista. Das sequelas, a mais linda é a paixão por esta santificada profissão.
Neste ano de 2018 comemoro meus cinquenta anos de atividade ininterrupta como profissional de jornalismo. Não poderia deixar de dividir este acontecimento com meus amigos e leitores, alguns convivendo comigo há décadas.
Costumo dizer que em minhas atividades profissionais sou escritor por acaso, procurador (aposentado do Tribunal de Contas) por necessidade e jornalista por vocação. Foi essa a profissão que abracei e foi, sem dúvida, a única que me realizou plenamente e tem servido como meu oxigênio durante os meus setenta anos bem vividos, sofridos, curtidos e comemorados. Faço jornalismo 24 horas por dia e assim tem sido minha pauta.
Comecei minha atividade profissional em São Paulo (1968), em plenos “anos de chumbo” , dominados pela ditadura militar que prendia, arrebentava, torturava e assassinava aqueles que ousassem sequer se opor ao regime. Foi em “Sampa” a minha grande escola de jornalismo, trabalhando com os maiores nomes da comunicação e aprendendo muito sobre ética, resistência e independência na sagrada missão de informar, opinar e defender o interesse público, acima de tudo.
Na década de 70 de volta a Alagoas, para não ser preso pela Ditadura, alertado por colegas e até por agentes da repressão meus amigos, que sabiam o risco que eu corria, desembarquei no velho e combativo Jornal de Alagoas, pertencente ao mesmo grupo editorial que trabalhava na capital paulista (Diários Associados), sendo aqui recepcionado pelo competente diretor Ricardo Neto, que se tornou um amigo fraterno.
O jornalismo em Alagoas
Durante todos esses anos passei por vários veículos nas funções de redator, repórter, editor e diretor. Fundei com Noaldo Dantas o semanário Opinião, combativo, polêmico e que trouxe grande incômodo para muitos políticos e bandidos públicos e privados à época. Também fundei com Pedro Collor e fui seu diretor o jornal Correio de Alagoas, com uma equipe de craques a exemplo de Eliane Aquino, Zélia Cavalcante, José Elias, João de Deus, Jurandir Queiroz e outros nomes que me fogem à memória já meia falha. O jornal teve uma vida curta, pela morte prematura de Pedro Collor, mas enquanto durou teve momentos de glória, batendo o jornal Gazeta (líder absoluto em circulação e leitura) em muitas ocasiões, pela garra e capacidade de turma reunindo os melhores.
No ano de 1998 deixei as redações, mas sem jamais me afastar do apaixonante ofício de escrever. Passei a ter uma coluna política no Jornal Extra e mais tarde a mesma coluna no semanário Tribuna do Sertão, publicada também em alguns sites de notícias. A coluna chegou a ser publicada em alguns jornais diários, mas “dispensada por contrariar interesses da empresa”. Nunca tive amarras, escrevo com independência e nunca temi poderosos. Nem general nem “coroné político”. Tenho me esforçado e aprendo a cada dia com o jornalismo. Tive dois mestres que faço questão de citar: Rodrigues de Gouveia e Noaldo Dantas.
Algumas reflexões sobre o jornalismo
O importante é saber que o jornalista não pode ser o tosco reprodutor de falas selecionadas nas fontes pelas assessorias de imprensa, nem o pauteiro de frescuras e amenidades, nem o assassino do verbo, nem o trucidador de soluções clássicas da língua, nem o perseguidor de madonas ou o farejador de perfumes das celebridades. É preciso resgatar a essência do jornalismo, quando tínhamos apenas uma caneta e um bloco de papel dobrado no bolso da calça.
Tenho orgulho de ser jornalista, pois nossa matéria prima é o humano e suas histórias, sejam elas de corrupção e vergonha ou solidariedade e superação;
Em diálogo com outras áreas do conhecimento, o jornalismo pode se apresentar como um instrumento de transformação social;
Tenho orgulho de ser jornalista, pois o Superman e o Homem Aranha também são jornalistas.
Jornalistas não estão aí para derrubar governos ou governantes, mas sim, de manter uma constante vigilância sobre tudo que interessa a sociedade, afinal de contas, este é o seu papel ético e principal. Quem controla o que acontece em um país é sua própria população, desde que tenha as devidas informações para fazê-lo, e a distribuição destas sim, é dever dos meios de comunicação. Qualquer meio que fuja deste princípio, ofendendo ou invadindo o que não é de interesse público, foge do papel dos meios de comunicação e deve ser tratado como pura e simples fofoca.
Jornalista e escritor. Articulista político dos jornais " Extra" e " Tribuna do Sertão". Pós graduado em Ciências Políticas pela UnB. É presidente do Instituto Cidadão, membro da União Brasileira de Escritores e da Academia Palmeirense de Letras.