Jorge Vieira – Jornalista
O Partido dos Trabalhadores, popularmente conhecido pela sigla PT, foi criado em uma conjuntura de grande efervescência social e política, com o objetivo de romper com as estruturas do velho regime ditatorial então em vigor e com a uma perspectiva de forjar uma nova representação política de uma sociedade que se movimentava em busca de mudanças sociais, políticas e econômicas.
Nesse contexto, a grande mídia impressa, radiofônica e televisiva confundia intencionalmente a população identificando os seus militantes com os chavões de comunistas e baderneiros vermelhos. Para parcelas significativas da sociedade, leia-se classe média e alta, o partido representava os interesses do Comunismo Soviético; a massa absolvia os ditames midiáticos; enquanto que outros segmentos, ligados principalmente a partidos de esquerda, movimento sindical, associação de moradores e Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s) da Igreja Católica cuidavam em discutir um novo modelo de sociedade e de participação política.
No imaginário social, independentemente dos interesses ideológicos de uns ou ausência de formação política de outros, o PT nasce de uma militância que quer construir uma nova perspectiva política para o Brasil, pregando um socialismo à brasileira, fundamentado em princípios éticos e cristão. Pode-se afirmar, utilizando as melhores das expressões da Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire e da Teologia da Libertação, que reconhece o excluído e oprimido como sujeito de sua própria libertação. Inegavelmente, esse é o novo jeito de fazer política no Brasil. E o PT representa isso e Lula é sua maior expressão.
Ao longo das últimas décadas da história brasileira a sociedade, mesmo não estando de acordo, foi se acostumando com a militância petista nas mobilizações sociais, reivindicações por melhores salários, por moradias dignas, na luta pela demarcação das terras indígenas e pela reforma agrária. Onde tinha uma luta dos trabalhadores, ali se encontrava a bandeira do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Este era o partido dos movimentos. Entretanto, o PT, obviamente, almeja o poder. E, aos poucos, foi conquistando espaços institucionais no parlamento e nas administrações municipais, estaduais e, nos últimos dez anos, o nível federal. Nesta trajetória, adquire experiência administrativa, mas também dissabores e revezes políticos, provocando frustrações e decepções no seio da sociedade.
Indubitavelmente, a contribuição dos PT para a sociedade brasileira, é inegável! O Brasil mudou com a participação da militância petista, com o modo petsita de governar, com o diálogo com os movimentos e segmentos sociais, religiosos, étnicos e de gêneros. O acúmulo social é incomensurável. E pode-se afirmar, do ponto de vista social, ainda não se identifica nenhuma força política com base social suficiente que possibilite a construção de uma nova alternativa partidária no campo da esquerda popular.
No entanto, a atual conjuntura vivida pelo Partido dos Trabalhadores é marcada pelo que se pode chamar de crise da militância com a governabilidade. O partido encontra-se numa encruzilhada: como ser governo e, ao mesmo, coerente com sua origem, fazer militância política. O PT sabe que para governar precisa de alianças, que exige acordos e renúncia em determinados pontos programáticos; mas, ao mesmo tempo, não pode abdicar do projeto de sociedade que defende.
Parece ser este o dilema que precisa ser encarado pela militância do Partido dos Trabalhadores. Como governar o Brasil sem abdicar do modo petista de fazer política e de governar. A sociedade espera por esta resposta!
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